Cantor
é o convidado do Sopapo Poético para crianças e apresentará seu trabalho "O
Ônibus do Sobe e Desce"
Gelson
Oliveira é cantor, compositor, instrumentista e produtor musical. Natural de
Porto Alegre, ele viveu por muitos anos em Gramado, onde trabalhou como
artesão, chegando a entalhar em madeira vários Kikitos (Festival do Cinema de
Gramado). Gelson também tocou em diversos “bailes da vida” e, animado com a
cena musical da Porto Alegre nos anos 1970, resolveu apostar em suas
composições. Voltando a residir na Capital, o ponto inicial de sua carreira
como compositor foi em 1979, a partir do show “Lado a Lado”, que ele dividiu
com o colega, na época também novato, Nei Lisboa. Os dois fizeram uma temporada
no teatro do Clube de Cultura, com sucesso de público e crítica.
Passados
37 anos, Gelson acumulou, em sua carreira, muitos álbuns gravados, solo ou em
parceria com colegas. Além de participações especiais em trabalhos de amigos,
como Gilberto Gil, Chico César, Nei Lisboa, Borguetinho, Antônio Villeroy, Rosa
Franco, Nelson Coelho de Castro, Bebeto Alves, Giba Giba, Luciah Helena, Zilah Machado, Rubens
Santos e Paulo Moura. O CD infantil “O Ônibus do Sobe e Desce” é o atual projeto
do cantor gaúcho, que já fez outros trabalhos direcionados para crianças, como
a música “Papagaio Pandorga”, tema do programa Pandorga, da TVE.
No
dia 29 de março, Gelson Oliveira participará do Sopapo Poético, que será voltado para as crianças. O Sopapo Poético
conversou com o cantor, confira a entrevista concedida ao jornalista Airan Albino.
Como que tu conheceu o Sopapo Poético?
Eu já
participei do Sopapo Poético com o Mombaça. Mas, na verdade, foi através do
José Carlos Rodrigues que conheci o projeto. Eu conheço o Zé Carlos e a Marina
Rodrigues faz muitos anos. Na época que eu morava em Porto Alegre, eu morei com
o Rubens Barbô, bailarino e coreógrafo. E eu trabalhei muito com o Barbô. O Zé
Carlos e a Marina estavam sempre presentes nos espetáculos do Barbô; ali a
gente foi desenvolvendo uma amizade. Eles também estiveram à frente de vários
eventos ligados ao movimento negro e, não sei o que me deu, eu passei a ir
também. O Zé Carlos já tinha me falado do Sopapo Poético e a gente sempre
tentou encaixar um dia para que eu conhecesse. Mas, por agenda, nunca casou de
eu assistir. Daí, fui convidado para participar do Sopapo quando veio o
Mombaça, do Rio de Janeiro.
Como tu avalia o Sopapo Poético? O que tu acha da
proposta de projetos assim, que focam na cultura negra da Região Sul?
Eu
acho que da mesma forma que artistas negros, individualmente, façam o seu o
trabalho, é importante que tenha eventos que focam somente em gente que faça
aquela coisa específica. Eu acho que isso coloca uma carga muito maior e eleva
o trabalho do artista abordado. Eu acho importante as duas coisas, a gente tem
que caminhar e, ao mesmo tempo, é bom saber que outras pessoas – que passam
pela mesma coisa – se juntem e se fortaleçam. Eu, sempre que fui
solicitado para engrossar alguma fileira, estive presente. Em espetáculos,
dirigirindo, fazendo direção musical, produção, e de CD também. Aonde eu pude
colaborar nesse sentido, sempre gostei, sempre deu resultado. Tá aí o exemplo
da Banda do Dorinho, do CD do Rosa Franco, CD da nossa querida Zilah Machado. O
espetáculo concebido e dirigido pela a bailarina e coreógrafa Heloisa Perez.
Também trabalhei no espetáculo “Arte Negra do Sul”, que foi apresentado no
Theatro São Pedro, muito bonito, lotado pra caramba. E ali tinha Zilá Machado,
Mariete Fialho, Rosa Franco, Giba Giba.
E a ligação do teu trabalho com o público infantil? Tu
fez a música que virou tema do programa Pandorga.
Bá,
esse é um tema que me toca! No início do anos 80 eu fui morar no Rio de
Janeiro, porque ganhei um curso especial, através do maestro Paulo Moura. Fui
estudar na Escola Villa-Lobos. O Paulo Moura me conheceu durante o Festival de
Cinema de Gramado, e aí a gente acabou tocando junto, dando uma canja. E a
gente imediatamente fechou, nossos santos se entenderam. Durante esse período,
no Rio de Janeiro, eu morava com uma tia e ela morava no Horto, Jardim Botânico
no Alto. Daí, sempre quando eu via da Lapa, eu passava pelo Aterro do Flamengo
e eu gostava de entrar no Parque Lage, achar algum banco lá e estudar o meu
violão. Ali eu compus muitas músicas, naquela época. E um dia, eu passando pelo
Aterro do Flamengo – eu vi uma das coisas mais bonitas que eu já vi na
vida –
que foi um festival de pandorga. Tinha pandorgas de todos os tamanhos e cores.
Depois dali, eu fui para o Parque Lage e aí surgiu essa música, "Papagaio
Pandorga". Anos depois, de volta a Porto Alegre, alguém da TVE me falou que
estava sendo engendrado um programa infantil e que, talvez, o programa se
chamasse Pandorga. E aí essa pessoa me falou assim: "eu sei que tu tem uma
música que fala de pandorga, e eu já falei lá na TV que essa música é muito
bonita. Posso botar como tema do programa?". Eu:"pô, pra mim é uma
honra". Aí a música entrou no programa e já teve uma imediata resposta com
o público, me mandavam cartas e tal.
Falando do projeto que tu vai apresentar no Sopapo, o
"Ônibus do Sobe e Desce", tu tem uma ligação com o público infantil.
Então,
desde aquela época eu pensava em fazer um trabalho dirigido às crianças. Aí
acabei montando um espetáculo que se chamava “O Ônibus do Sobe e Desce”. Um
espetáculo infantil que eu montei com um cantor e compositor, negro também, um
dos caras mais talentosos que eu já conheci na vida, gaúcho de Porto Alegre que
se chama Telmo Martins. O espetáculo foi apresentado em algumas escolas, esse é
o embrião do CD. E as crianças gostaram bastante. Então quando eu pedi para
fazer o CD, eu entrei no Fumproarte e não foi aprovado logo. Acho que tentei
umas duas ou três vezes. E aí, na última vez, entrou. Eu utilizei poucas
músicas do espetáculo, a maioria das músicas que tem ali foram as que eu fiz
especialmente para o CD, acho que foi uma coisa mais fresca. E até porque a
gente vai mudando a intenção, a maneira e a compreensão de compor para o
público alvo, que eram as crianças. Respondendo sobre como foi para criar
músicas para as crianças, é digo que é uma coisa que eu falo, que eu repito:
ainda bem que eu utilizei a criança que eu não matei. Eu vivi intensamente a
minha infância. E, para mim, isso é uma coisa que a gente leva para o resto da
vida.
Das composições do "Ônibus do Sobe e Desce",
têm alguma música que tu tenhas um apreço mais especial?
Tem
aquelas que têm uma reação com o público, o "Cavalo Azul". A
"Cavalo Azul" é uma música que as crianças adoram, é uma das mais
cantadas e foi feita por causa de uma ideia de uma criança, parente do Nelson
Coelho de Castro. Tudo começou assim: eu e o Nelson fomos convidados pra fazer
um show infantil no Santander Cultural, na semana da criança. Então, ele tinha
um espetáculo, "Cidade do Lugar Nenhum", e eu entrei com o pré
"O Ônibus do Sobe e Desce", porque já era um projeto que vinha do
espetáculo e que tinha algumas músicas. Daí nós misturamos os dois na
apresentação, um tocava a música do outro. E aí, rolou essa ideia, "pô,
nós temos que fazer músicas novas também". Daí eu: "tá, vamos fazer
música nova. Mas precisamos de inspiração pra fazer novas composições". Aí
o Nelson disse que um guri da família dele falou que tinha tido um sonho com um
cavalo azul, que tinha um rabo comprido. Eu: "Bá, perfeito!". Assim
eu fiz o "Cavalo Azul", um cavalo que entra como um protetor das crianças,
um sentinela, um ser que protege as crianças. E é impressionante que as
crianças captaram isso aí e acho que a própria levada da música, o ritmo dela e
a melodia levam pra isso.
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