domingo, 10 de abril de 2016

Duan Kissonde: “A minha poesia que vai me levar”



 

Jovem poeta, de 22 anos, se espelha em nomes consagrados da literatura negra para representar sua comunidade

Duan Porto Barcelos, mas eu uso Duan Kissonde. Esse nome foi uma coisa assim, eu me rebatizei, sabe. Em 2012, eu passei por um linfoma no baço. Fiquei internado e daí tive que fazer o transplante de medula. Daí eu achei justo que como a pessoa nasce de novo, tem que ter um novo nome. Eu deixei o Duan e coloquei o Kissonde. Kissonde eles chamam uma formiga que tem nas savanas lá na Angola. É uma formiga que tem uma mordida forte, e eu achei que tinha tudo a ver com a minha personalidade um pouco, sabe. A formiga é um bicho pequeno, mas é um bicho forte, que consegue carregar dez vezes o peso dela e tal. Então eu fiz essa ligação.

Tímido até terminar a primeira frase, depois da segunda e da terceira ele não para mais. Duan Kissonde é a revelação da poesia negra gaúcha. Ainda se acostumando com os elogios vindos de referências como Jorge Fróes, Sidnei Borges e Fátima Farias, ele é o poeta convidado no projeto Sopapo Poético na Escola: Juventude negra e poesia. Dia 12, terça-feira, na Escola Estadual Benardo Vieira de Melo, em Esteio-RS.

Na tua família, quem mais tinha ligação com poesia?
Só a minha vó, Dona Rosa Braga. Ela tinha só a sexta série, mas sempre gostou de escrever. Era uma maneira que ela tinha de extravasar os sentimentos e nunca foi de apresentar. Ela só se apresentava para mim, e eu sempre prestei atenção no que ela falava, no que ela fazia. Então, a gente era meio cúmplice nesse lance de poesia. E depois, uma vez, uns quatro anos antes de ela falecer, ela conheceu uma mulher que faz um projeto "Historinhas Ambulantes". Que era só de fotos, com saídas para a Redenção, Praça da Alfândega e daí a minha vó deu a ideia de colocar poesia ali também. Tipo, tu chega lá e conta uma história, daí tu tem direito de pegar uma história de lá. Tu paga uma história com outra história. Quando a minha vó faleceu, ela virou a madrinha desse projeto. Em 2014, eles receberam o Prêmio Açorianos de Literatura, daí teve homenagem à minha vó, me chamaram para participar de coquetel e todas aquelas coisas. Foi reconhecida depois, né? Não foi reconhecida em vida, então agora eu estou fazendo esse trabalho para dar orgulho a ela também.

Quantos poemas tu já escreveu?
Nossa, eu nem conto. Eu tenho mania de escrever em papel, e a minha mãe tem a mania de juntar. Porque às vezes eu escrevo, acho que não ficou bom e daí eu largo, toco no lixo. Ela vai lá, mexe na lixeira diz: "não, esse aqui eu vou guardar". Daí ela tem o acervo dela e eu tenho as minhas coisas. Agora sim, da minha fase essa, que conta de 2012 pra cá, depois que eu passei por toda essa função, percebi que a minha poesia tá mais amadurecida. Dessa fase eu tenho uns 60 poemas, mas de vida toda, devo ter mais de 600.

A tua poesia sempre foi voltada para a questão do negro?
Sim, essa coisa de fazer a poesia na questão do negro começou com 16 anos, quando eu fui na casa do Vladi, Vladimir Rodrigues, e vi pela primeira vez o livro de poemas do Oliveira Silveira. E aquilo, bá, mudou totalmente a minha vida, e eu fiquei pensando: "cara. alguém vai ter que seguir o caminho desse cara aqui". Não pode ser só ele que fez, alguém tem que dar continuidade nesse trabalho. E nisso que eu me esforço, nessa coisa do negro. No bairro onde eu moro, na periferia, lá na Lomba do Pinheiro, essa coisa é muito constante, esse embate racial. Tu consegues perceber, por mais que seja uma comunidade onde eu more – majoritariamente negra –, vejo que tenho um retorno lá dentro da minha comunidade. Os caras me conhecem: "Ó lá, o Duan, o poeta", eles olham as minhas fotos lá no Sarau e tudo mais. E isso daí é uma forma de dar exemplo, sabe. Hoje, tenho conhecidos que voltaram a estudar e que estão lendo poesia, e isso é muito gratificante. Esse dias, vi um cara lá do bairro postando um poema do Oliveira Silveira no Facebook. E aquilo foi influência minha. Então, esse é o trabalho que eu faço na verdade.

Como tu vê a importância de ter jovens negros envolvidos com poesia?
A importância é essa, do espelho. Tu estar ali vendo que tem um poeta negro, que faz um trabalho e que ele mora no mesmo lugar que tu mora. Daí tu vê que "pô, o negão que tá fazendo isso daí, tá começando a subir, né? Tá começando a ser referência". É nisso que eu me preocupo muito, de ser um bom exemplo, uma referência para eles (jovens). Assim como o Oliveira Silveira é para mim, eu sou para eles lá também, na periferia. Então, eu tenho um conceito, que criei ano passado, na verdade é um poema e ele é assim: "Poesia de periferia não é patifaria/É pedra preciosa perfeitamente palpável". Esse é o conceito que eu tô trabalhando, de poesia preta de periferia. Não só uma poesia de periferia. Para eles, que olham de fora, é só uma periferia, para mim é o meu universo, é o meu centro.

Além de ter o Oliveira Silveira como espelho, quem mais é referência pra ti?
Têm vários: o Jonatas Conceição, Éle Semog, que venho lendo desde o ano passado e não larguei. Têm mais poetas "nego véio" também, como o Cuti Silva, grande referência. José Carlos Limeira é outro grande. Carlos Assumpção. Outro que também é da nova geração, o Akins Kinte, de São Paulo, um cara que faz um trabalho muito interessante, ele tem um poema que tá bombando: "Duro não é o cabelo/Duro é o sistema" e tal, é um baita poema, ganhou até festival de poesia de São Paulo de 2014. Tem o Sérgio Vaz também, foi um cara que me ajudou muito a compor as novas coisas que eu venho escrevendo. O Sisinho África, do Rio de Janeiro, que eu tive o prazer de conhecer lá. Colei ano passado no Sarau do Denegrir, é o sarau do Griotagem e quem faz é o Coletivo Denegrir, lá na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Daí tive a oportunidade de participar desse sarau, um sarau totalmente preto, o critério deles lá também é só para pessoal de cor, só preto mesmo. O bagulho é chapa preta! E foi, bá, uma experiência muito boa. Fui lá, representei a minha comunidade, levei para o Rio de Janeiro isso e, também, sempre representando o Oliveira Silveira, porque eu sempre digo: "se o novo tá aqui, é por causa do velho". Não tem como.

Falando em participações em saraus, tu já estiveste em quantos?
Na verdade, esse do dia de 12 de abril, do Sopapo Poético, é o meu primeiro sarau como poeta convidado. Eu sempre vou ali de "penetra", chego e só dou uma lida. Mas é aquela coisa, o que eu escrevo é independente. A força da minha poesia tá muito além do que eu sou, como pessoa. Então, às vezes, o que eu escrevi impactou tanto que começou a gerar repercussão. As poesias que eu faço é que tão me chamando para falar. E dá para ver que a identidade é muito forte, como o que te falei do Oliveira Silveira. Não quero imitar ele, também não quero roubar o lugar dele. Ele tá lá e vai ficar lá, o Oliveira Silveira é o nosso mestre e sempre vai ser. Mas eu quero resgatar isso, não deixar morrer. Eu quero pegar essa bandeira para mim e levantar.

Mesmo sendo novo, tu já tem uma caminhada, uma trajetória. Então qual a diferença de agora para o começo?
Foi tudo muito rápido. Então, como que te falei, final de 2014, daí em 2015 tive uma visibilidade mais ou menos e tá indo. Daqui a pouco, se continuar nesse ritmo, vão falar em poesia negra e vão falar em Duan. É uma coisa que eu ainda não tô preparado, mas eu vou ter que me preparar porque eu tô vendo que é a minha poesia que vai me levar. Agora mesmo teve a Pretessência, a antologia poética que o Sopapo vai lançar (no dia 30 de abril), tá num projeto de poesia que fizeram em Salvador. Eu mandei esse poema e escolheram de cara e eu nunca fui a Salvador; a minha poesia chegou lá antes de mim. E é o que tá acontecendo, então eu tô virando referência no meio. Tô chegando devagarzinho, humilde, sou tímido ainda, às vezes eu penso que tenho fazer uma performance melhor. Até pelo público, para dar uma animada e tal. Eu sou muito amador ainda nessa coisa. Tô construindo, mas eu vejo que daqui a pouco meu nome vai estar lá também, junto do Oliveira Silveira e de tantos outros.

JUVENTUDE E POESIA NEGRA - SOPAPO POETICO CONVIDA DUAN KISSONDE


 

SOPAPO POÉTICO NA ESCOLA
Juventude e Poesia Negra, com o convidado Duan Kissonde

A programação do Sopapo Poético - Ponto Negro da Poesia, sarau que se afirma como um espaço consagrado à poesia e à música negras, tem continuidade no mês de abril, com programação intensa e descentralizada. A iniciativa da Associação Negra de Cultura (ANdC) tem a finalidade de promover ações de promoção e difusão da literatura afro-brasileira e recebeu financiamento da Bolsa de Fomento à Literatura, do Ministério da Cultura (MinC).

O poeta Duan Kissonde (RS) é a atração no próximo dia 12 de abril, terça-feira, às 19h30min, no Sarau Juventude Negra, que se realiza na Escola Técnica Estadual Bernardo Vieira de Melo, em Esteio/RS, com entrada franca. O sarau convoca a uma reflexão acerca da violência sobre a juventude negra e o enfrentamento do racismo por meio da poesia e da literatura negra.

Duan Kissonde é um jovem poeta da periferia de Porto Alegre. Acadêmico do curso de História da UFRGS é considerado um talento emergente da poesia negra gaúcha. Inspirado por Oliveira Silveira, Éle Semog, Sérgio Vaz e Sabotage, segue fazendo a sua militância poética, segundo ele, "em um mundo de biqueiras lotadas e bibliotecas vazias, empunhei minha arma e disparei poesia". Membro da União Negra pela Libertação (UNL), Duan é um dos autores da antologia poética do sarau que será lançada em abril. O título escolhido para o livro, Pretessência, é o nome de um de seus poemas.

A PROGRAMAÇÃO

Dando continuidade à programação do Sopapo Poético ponto negro da poesia, no dia 26, terça-feira, 19h30min, no SIMPA (Rua João Alfredo, 61, Cidade Baixa), a escritora e imortal da Academia Brasileira de Letras, Cristiane Sobral (DF), abre a SEMANA DA POESIA NEGRA em mais uma edição do Sarau Sopapo Poético.

No dia 27 de abril, quarta-feira, 19h30min (local a confirmar) o Sopapo Poético apresenta Leitura Dramática dos textos Onde estaes Felicidade? e Favela de Carolina Maria de Jesus, com Lilian Rocha, Camila Falcão e Sidnei Borges.

No dia 28 de abril, segunda-feira, 19h30min, no Quilombo Areal da Baronesa, o Sarau Sopapo Poético, apresentando o poeta e compositor Jorge Onifade.

Encerrando a programação literária, no dia 30 de abril, sábado, 19h, no Instituto Cultural Afro-Sul Odomodê (Avenida Ipiranga 3850), comemora-se o lançamento da antologia poética PRETESSÊNCIA, que reúne dezenove poetas participantes do sarau, e o documentário SOPAPO POÉTICO - PONTO NEGRO DA POESIA, produzido por José Francisco de Souza Santos da Silva (Chico Meu Filho).

Toda a programação tem entrada franca.


APOIOS:

Ministério da Cultura
SIMPA - Sindicato dos Municipários de Porto Alegre
Boteko do Caninha (Areal da Baronesa)
Centro Cultural CEEE - Érico Veríssimo
Afro-Sul Odomodê
Associação Comunitária e Cultural Quilombo do Areal
Escola Técnica Bernardo Vieira de Mello (Esteio/RS)
SINDIPETRO - Sindicato dos Petroleiros
DEDS (Departamento de Educação e Desenvolvimento Social) - PROREXT - UFRGS

Assessoria de Imprensa: Silvia Abreu (MTB 8679-4) | 05/04/16
Fones: (51) 92772191(Claro) | (51) 8133.6787 (Tim)

quinta-feira, 24 de março de 2016

Gelson Oliveira: “Eu vivi intensamente a minha infância”



Cantor é o convidado do Sopapo Poético para crianças e apresentará seu trabalho "O Ônibus do Sobe e Desce"

Gelson Oliveira é cantor, compositor, instrumentista e produtor musical. Natural de Porto Alegre, ele viveu por muitos anos em Gramado, onde trabalhou como artesão, chegando a entalhar em madeira vários Kikitos (Festival do Cinema de Gramado). Gelson também tocou em diversos “bailes da vida” e, animado com a cena musical da Porto Alegre nos anos 1970, resolveu apostar em suas composições. Voltando a residir na Capital, o ponto inicial de sua carreira como compositor foi em 1979, a partir do show “Lado a Lado”, que ele dividiu com o colega, na época também novato, Nei Lisboa. Os dois fizeram uma temporada no teatro do Clube de Cultura, com sucesso de público e crítica.

Passados 37 anos, Gelson acumulou, em sua carreira, muitos álbuns gravados, solo ou em parceria com colegas. Além de participações especiais em trabalhos de amigos, como Gilberto Gil, Chico César, Nei Lisboa, Borguetinho, Antônio Villeroy, Rosa Franco, Nelson Coelho de Castro, Bebeto Alves, Giba Giba,  Luciah Helena, Zilah Machado, Rubens Santos e Paulo Moura. O CD infantil “O Ônibus do Sobe e Desce” é o atual projeto do cantor gaúcho, que já fez outros trabalhos direcionados para crianças, como a música “Papagaio Pandorga”, tema do programa Pandorga, da TVE.

No dia 29 de março, Gelson Oliveira participará do Sopapo Poético, que será voltado para as crianças. O Sopapo Poético conversou com o cantor, confira a entrevista concedida ao jornalista Airan Albino.

Como que tu conheceu o Sopapo Poético?
Eu já participei do Sopapo Poético com o Mombaça. Mas, na verdade, foi através do José Carlos Rodrigues que conheci o projeto. Eu conheço o Zé Carlos e a Marina Rodrigues faz muitos anos. Na época que eu morava em Porto Alegre, eu morei com o Rubens Barbô, bailarino e coreógrafo. E eu trabalhei muito com o Barbô. O Zé Carlos e a Marina estavam sempre presentes nos espetáculos do Barbô; ali a gente foi desenvolvendo uma amizade. Eles também estiveram à frente de vários eventos ligados ao movimento negro e, não sei o que me deu, eu passei a ir também. O Zé Carlos já tinha me falado do Sopapo Poético e a gente sempre tentou encaixar um dia para que eu conhecesse. Mas, por agenda, nunca casou de eu assistir. Daí, fui convidado para participar do Sopapo quando veio o Mombaça, do Rio de Janeiro.

Como tu avalia o Sopapo Poético? O que tu acha da proposta de projetos assim, que focam na cultura negra da Região Sul?
Eu acho que da mesma forma que artistas negros, individualmente, façam o seu o trabalho, é importante que tenha eventos que focam somente em gente que faça aquela coisa específica. Eu acho que isso coloca uma carga muito maior e eleva o trabalho do artista abordado. Eu acho importante as duas coisas, a gente tem que caminhar e, ao mesmo tempo, é bom saber que outras pessoas que passam pela mesma coisa se juntem e se fortaleçam. Eu, sempre que fui solicitado para engrossar alguma fileira, estive presente. Em espetáculos, dirigirindo, fazendo direção musical, produção, e de CD também. Aonde eu pude colaborar nesse sentido, sempre gostei, sempre deu resultado. Tá aí o exemplo da Banda do Dorinho, do CD do Rosa Franco, CD da nossa querida Zilah Machado. O espetáculo concebido e dirigido pela a bailarina e coreógrafa Heloisa Perez. Também trabalhei no espetáculo “Arte Negra do Sul”, que foi apresentado no Theatro São Pedro, muito bonito, lotado pra caramba. E ali tinha Zilá Machado, Mariete Fialho, Rosa Franco, Giba Giba.

E a ligação do teu trabalho com o público infantil? Tu fez a música que virou tema do programa Pandorga.
Bá, esse é um tema que me toca! No início do anos 80 eu fui morar no Rio de Janeiro, porque ganhei um curso especial, através do maestro Paulo Moura. Fui estudar na Escola Villa-Lobos. O Paulo Moura me conheceu durante o Festival de Cinema de Gramado, e aí a gente acabou tocando junto, dando uma canja. E a gente imediatamente fechou, nossos santos se entenderam. Durante esse período, no Rio de Janeiro, eu morava com uma tia e ela morava no Horto, Jardim Botânico no Alto. Daí, sempre quando eu via da Lapa, eu passava pelo Aterro do Flamengo e eu gostava de entrar no Parque Lage, achar algum banco lá e estudar o meu violão. Ali eu compus muitas músicas, naquela época. E um dia, eu passando pelo Aterro do Flamengo eu vi uma das coisas mais bonitas que eu já vi na vida que foi um festival de pandorga. Tinha pandorgas de todos os tamanhos e cores. Depois dali, eu fui para o Parque Lage e aí surgiu essa música, "Papagaio Pandorga". Anos depois, de volta a Porto Alegre, alguém da TVE me falou que estava sendo engendrado um programa infantil e que, talvez, o programa se chamasse Pandorga. E aí essa pessoa me falou assim: "eu sei que tu tem uma música que fala de pandorga, e eu já falei lá na TV que essa música é muito bonita. Posso botar como tema do programa?". Eu:"pô, pra mim é uma honra". Aí a música entrou no programa e já teve uma imediata resposta com o público, me mandavam cartas e tal.

Falando do projeto que tu vai apresentar no Sopapo, o "Ônibus do Sobe e Desce", tu tem uma ligação com o público infantil.
Então, desde aquela época eu pensava em fazer um trabalho dirigido às crianças. Aí acabei montando um espetáculo que se chamava “O Ônibus do Sobe e Desce”. Um espetáculo infantil que eu montei com um cantor e compositor, negro também, um dos caras mais talentosos que eu já conheci na vida, gaúcho de Porto Alegre que se chama Telmo Martins. O espetáculo foi apresentado em algumas escolas, esse é o embrião do CD. E as crianças gostaram bastante. Então quando eu pedi para fazer o CD, eu entrei no Fumproarte e não foi aprovado logo. Acho que tentei umas duas ou três vezes. E aí, na última vez, entrou. Eu utilizei poucas músicas do espetáculo, a maioria das músicas que tem ali foram as que eu fiz especialmente para o CD, acho que foi uma coisa mais fresca. E até porque a gente vai mudando a intenção, a maneira e a compreensão de compor para o público alvo, que eram as crianças. Respondendo sobre como foi para criar músicas para as crianças, é digo que é uma coisa que eu falo, que eu repito: ainda bem que eu utilizei a criança que eu não matei. Eu vivi intensamente a minha infância. E, para mim, isso é uma coisa que a gente leva para o resto da vida.

Das composições do "Ônibus do Sobe e Desce", têm alguma música que tu tenhas um apreço mais especial?
Tem aquelas que têm uma reação com o público, o "Cavalo Azul". A "Cavalo Azul" é uma música que as crianças adoram, é uma das mais cantadas e foi feita por causa de uma ideia de uma criança, parente do Nelson Coelho de Castro. Tudo começou assim: eu e o Nelson fomos convidados pra fazer um show infantil no Santander Cultural, na semana da criança. Então, ele tinha um espetáculo, "Cidade do Lugar Nenhum", e eu entrei com o pré "O Ônibus do Sobe e Desce", porque já era um projeto que vinha do espetáculo e que tinha algumas músicas. Daí nós misturamos os dois na apresentação, um tocava a música do outro. E aí, rolou essa ideia, "pô, nós temos que fazer músicas novas também". Daí eu: "tá, vamos fazer música nova. Mas precisamos de inspiração pra fazer novas composições". Aí o Nelson disse que um guri da família dele falou que tinha tido um sonho com um cavalo azul, que tinha um rabo comprido. Eu: "Bá, perfeito!". Assim eu fiz o "Cavalo Azul", um cavalo que entra como um protetor das crianças, um sentinela, um ser que protege as crianças. E é impressionante que as crianças captaram isso aí e acho que a própria levada da música, o ritmo dela e a melodia levam pra isso.

Sopapinho Poético convida Gelson Oliveira e o Ônibus do Sobe e Desce

 Gelson Oliveira é atração no Sopapo Poético no dia 29 de março, no SIMPA


A programação especial que marca os quatro anos do projeto Sopapo Poético ponto negro da poesia, um sarau dedicado à poesia e à música negra, prossegue no próximo dia 29 de março, terça-feira, às 19h30min, no Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa), como uma edição especial voltada para as crianças (Sopapinho). O convidado especial da noite será o cantor e compositor Gelson Oliveira. O músico apresenta o pocket show Ônibus do Sobe e Desce, mostrando composições do álbum homônimo, lançado em 2015, ganhador do Prêmio Açorianos de Melhor Disco Infantil de 2015. A entrada é franca.

Esta não será a primeira incursão de Gelson Oliveira ao universo infantil. Ele é autor da música Papagaio Pandorga, tema do programa Pandorga, da TVE. Ele conta que desde a criação da música, na década de 80, pensava em fazer um trabalho dirigido às crianças. - Aí acabei montando um espetáculo que se chamava “O Ônibus do Sobe e Desce”. Um espetáculo infantil que eu montei com um cantor e compositor, negro também, um dos caras mais talentosos que eu já conheci na vida, gaúcho de Porto Alegre que se chama Telmo Martins. O espetáculo foi apresentado em algumas escolas, esse é o embrião do CD, conta  Gelson.  - E as crianças gostaram bastante. Então quando eu pedi para fazer o CD, eu entrei no Fumproarte e não foi aprovado logo. Acho que tentei umas duas ou três vezes. E aí, na última vez, entrou”.
Gelson explica que a maioria das músicas foram compostas especialmente para o CD. Acho que foi uma coisa mais fresca. E até porque a gente vai mudando a intenção, a maneira e a compreensão de compor para o público alvo, que eram as crianças. Respondendo sobre como foi para criar músicas para as crianças, é digo que é uma coisa que eu falo, que eu repito: ainda bem que eu utilizei a criança que eu não matei. Eu vivi intensamente a minha infância. E, para mim, isso é uma coisa que a gente leva para o resto da vida (trecho da entrevista concedida ao jornalista Airan Albino. Leia a entrevista na íntegra e acompanhe a programação aqui neste blog e em nossa página do facebook  https://www.facebook.com/Sopapo-Po%C3%A9tico-382632388511319/?fref=ts.
O projeto Sopapo Poético  ponto negro da poesia tem a finalidade de promover ações de promoção e difusão da literatura afro-brasileira, por isso prevê a realização de saraus temáticos, lançamento de uma antologia poética e de um vídeo-documentário. A programação comemorativa se desenvolveu ao longo de março e prosseguirá em abril com debates, shows musicais, leituras, performances, feiras de empreendedorismo negro, em espaços descentralizados da cidade e para um público diversificado e de todas as idades, sempre com entrada franca.
Sopapinho
Com a proposta de desenvolver o interesse pela cultura e pela poesia nos pequenos, o Sopapinho é um momento de fortalecimento da identidade étnica e da autoestima das crianças negras. As atividades do Sopapinho, paralelas ao sarau, envolvem brincadeiras, artes visuais, canto, contação de histórias e a participação na roda de poesia. Nesta edição, os pequenos aprenderão as músicas do convidado especial Gelson Oliveira.

Assista ao vídeo:

Sobre Gelson Oliveira
Natural de Porto Alegre, o cantor, compositor, instrumentista, arranjador e produtor musical Gelson Oliveira, viveu por muitos anos em Gramado, onde trabalhou como artesão, chegando a entalhar em madeira, vários Kikitos, os troféus do Festival do Cinema de Gramado. No início da carreira, foi crooner de orquestra e animou muitos bailes da vida, como cantor e instrumentista. Em 1970, voltou a residir na capital Gaúcha. O ponto inicial de sua carreira como compositor foi em 1979, a partir do show Lado a Lado, que ele dividiu com o colega na época também novato, Nei Lisboa. Os dois fizeram uma temporada no teatro do Clube de Cultura, com sucesso de público e crítica. Com mais de 30 anos de carreira, inúmeras premiações e sendo festejado pelo público e pela crítica, Gelson Oliveira tem acumulado vários álbuns gravados, solo ou em parceria com colegas, além de participações especiais em trabalhos de muitos artistas.

Referências:

SERVIÇO
O Quê: Sopapo Poético ponto negro da poesia, com participação especial de Gelson Oliveira apresentando o pocket show Ônibus do Sobe e Desce.
 Quando: Dia 29 de março de 2016, terça-feira, às 19h30min, dentro da programação do projeto Sopapo Poético ponto negro da poesia.
Onde: SIMPA (Rua João Alfredo, 61, bairro Cidade Baixa), Porto Alegre.
Quanto: Entrada franca.

Este projeto foi selecionado pela Bolsa de Fomento à Literatura do Ministério da Cultura

REALIZAÇÃO:
Associação Negra de Cultura - ANdC
APOIOS:
Ministério da Cultura
SIMPA - Sindicato dos Municipários de Porto Alegre
Boteko do Caninha (Areal da Baronesa)
Centro Cultural CEEE - Érico Veríssimo
Afro-Sul Odomodê
Associação Comunitária e Cultural Quilombo do Areal
 Escola Técnica Bernardo Vieira de Mello (Esteio/RS)
SINDIPETRO - Sindicato dos Petroleiros
DEDS (Departamento de Educação e Desenvolvimento Social) - PROREXT - UFRGS


Assessoria de Imprensa: Silvia Abreu (MTB 8679-4) | 21/03/16
Fones: (51) 92772191(Claro) | (51) 8133.6787 (Tim)